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20 de jun. de 2011

12.Fragmentos sobre o Brasil (Pedro Alvares De Cabral)

A terra
“Esta província Santa Cruz está situada naquela grande América, uma das quatro partes do mundo. Dista o seu princípio dois graus da equinocial para a banda do sul, e daí se vai estendendo para o mesmo sul até quarenta e cinco graus. De maneira que parte dela fica situada debaixo da zona tórrida e parte debaixo da temperada. Está formado esta província à maneira de uma harpa, cuja costa pela banda do norte corre do oriente ao ocidente e está olhando diretamente a equinocial; e pela do sul confina com outras províncias da mesma América povoadas e possuídas de povo gentílico, com que ainda não temos comunicação.

Plantas
Primeiramente tratarei da planta e raiz de que os moradores fazem seus mantimentos que la comem em logar de pão. A raiz se chama mandioca e a planta de que se gera he de altura de hum homem pouco mais ou menos. Esta planta nam he muito grossa, e tem muitos nós.

Outra fruta há nesta terra muito melhor, e mais prezada dos moradores de todas, que se cria em uma planta humilde junto do chão: a qual planta tem umas pencas como de erva babosa. A esta fruta chamam ananases, e nascem como alcachofras, os quais parecem naturalmente pinhas, e são do mesmo tamanho, e algumas maiores. Depois que são maduros, têm um cheiro mui suave e comem-se aparados feitos em talhas. São tão saborosos que a juízo de todos não há fruta neste Reino que no gosto lhes faça vantagem.

09.língua de Pero (Magalhães Gândavo)

       Alguns vocábulos há nela de que não usam senão as fêmeas, e outros que não servem senão para os machos: carece de 3 letras , convém saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei e desta meneira vivem desordenadamente sem terem além disto conta nem peso, nem medida.

08.Costumes (Jean Lery)

       Quanto ao parto, eis o que presenciei. Pernoitando com outro frânces wm uma aldeia, certa ocasião, ouvimos, quase à meia-noite, gritos de mulher, e pensamos que estivesse sendo atacada pelo jaguar, essa fera caniceira que já decrevi. Acudismos imediatamente e verificamos que se tratava apenas de uma mulher em horas de parto. O pai recebeu a criança nos braços, depois de cortar com os dentes o cordão umbilical e amarrá-lo. Em seguida, continuando no seu oficio de parteira, esmagou com o polegar o nariz do filho, como é de praxe entre os selvagens do país. Note-se que as nossas parteiras, ao contrário, apertam o nariz aos recém-nascidos para dar maior beleza afilando-o.

07. Carta de piloto anônimo da frota (Pedro Alvares Cabral) - Literatura Informativa

        De aspecto, esta gente são homens pardos, e andam nus sem vergonha e os seus cabelos compridos. E têm a barba pelada. E as pálpebras dos olhos e em cima delas eram pintadas com figuras de cores brancas e pretas e azuis e vermelhas. Têm o lábio da boca, isto é, o de baixo, furado, e nos buracos metem um osso grande como um prego. E outros trazem uma pedra azul e verde e comprida dependurada dos ditos buracos. As mulheres andam do mesmo modo sem vergonha e são belas de corpo, os cabelos compridos. E as suas casas são de madeira coberta de folhas e ramos de árvores com muitas colunas de madeira.
[...]

16 de jun. de 2011

39.Nascemos para amar: a Humanidade de Bocage - Arcadismo

Nascemos para amar; a humanidade

Vai tarde ou cedo aos laços da ternura:

Tu és doce atractivo, ó formusura,

Que encanta, que seduz, que persuade.



Enleia-se por gosto a liberdade;

E depois que a paixão n'alma se apura

Alguns então lhe chamam desventura,

Chamam-lhe alguns então felicidade.
Qual se abismou na lôbregas tristezas,

Qual em suaves júbilos discorre,

Com esperanças mil na ideia acesas.
Amor ou desfalece, ou pára, ou corre;

E, segundo as diversas naturezas,

Um porfia, este esquece, aquele morre.

37.Oh retrato da morte, oh noite amiga de Bocage - Arcadismo

Oh retrato da morte, oh noite amiga
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha do meu pranto,
Des meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor, que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:

E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.

35.Tem pesado semblante, a cor é baça (Cartas Chilenas) de Tomas Antonio Gonzaga - Arcadismo

Tem pesado semblante, a cor é baça,

o corpo de estatura um tanto esbelta,

feições compridas e olhadura feia;

tem grossas sobrancelhas, testa curta,

nariz direito e grande, fala pouco

em rouco, baixo som de mau falsete;

sem ser velho, já tem cabelo ruço,

e cobre este defeito e fria calva

à força de polvilho que lhe deita.

Ainda me parece que o estou vendo

no gordo rocinante escarranchado,

as longas calças pelo embigo atadas,

amarelo colete, e sobre tudo

vestida uma vermelha e justa farda.

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